Entre um trem e outro, eles esperam.
Passa uma, passam cem, passam cento e dez pessoas pela catraca da estação mais consoladora, e eles esperam.
Esperam pelo abraço apertado.
Pelo beijo que não foi trocado.
Pela saudade que, finalmente, terá fim.
Eles olham nos celulares as horas e contam os minutos:
– Por que demoram tanto?
A ansiedade faz com que os corpos experimentem uma espécie de dança: os dedos das mãos são estalados, as pernas vão para lá e para cá, a mochila passa de um ombro a outro.
E a pergunta que tem pressa:
– Onde é que eles estão?
Até que no momento que a impaciência está prestes a explodir, tudo ao redor para.
O trem.
O barulho do troco das moedas na cabine da passagem.
O músico que toca.
O hippie que faz mais um brinco.
O cara que pede esmola e o palhaço que faz malabarismo no farol.
A Avenida Paulista toda.
E eles chegam.
Dão os abraços apertados.
Os beijos não trocados.
Se consolam diante da saudade que teve fim.
E tudo volta a girar novamente, na cidade onde a estação Consolação é ponto de encontro de todos que vem e vão.
De todos os “ois”.
De todos os “adeus”.
De todos os “até logo”.
De todo o sentimento escondido diante do silêncio.
Na cidade que é de todos.